1917: A revolução comunista, o jazz, o samba

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Em outubro do penúltimo ano da Primeira Guerra Mundial aconteceu a revolução comunista liderada por Lênin.

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Em 1895, o jovem negro Scott Joplin, de formação clássica, lança partitura com um tal de ragtime. Em 1899, Maple Leaf Rag primeiro sucesso internacional do gênero esquisito. Rompendo com definições simples o jazz foi incorporando ritmos, escalas, síncopes,, estilos, “falas” do dixie de New Orleans, fazendo fusion com valsas  do ragtime.

1917 é o ano do Birth Certificate do jazz. Há controvérsias quanto a data, mas, se quem não registra não é dono, em 27 de novembro de 1916, Donga registrou na Biblioteca Nacional a letra do samba Pelo Telefone. Gravado em janeiro de 1917 pelo cantor Baiano.

Sinto-me privilegiado por ter conhecido em Moscou um pouco do modo de vida soviético. E mil vezes gratificado por ter vivido em Nova York o American way of life. E eternamente satisfeito por ter nascido brasileiro. A revolução vermelha de 1917 embalou os meus sonhos adolescentes. O jazz ajudou-me a sentir melhor a beleza do samba.

shutterstock_159438023 image-title5 Repleto-de-cores-seus-quadros-retratam-a-vida-no-Rio-de-Janeiro-do-início-do-século-20.-Foto-Reprodução http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Ícones do Samba

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Gêneros musicais rebeldes, o jazz e o samba nasceram nos guetos da escravidão, nas plantações de algodão e cana de açúcar. Seus interpretes discriminados, perseguidos, proibidos, presos.

O samba é um produto cultural brasileiríssimo

Jazz e samba nasceram de raízes idênticas. Mas, o samba tem swing e molejo que nenhum outro gênero musical tem. A percussão de um Samba Exaltação, Samba Enredo, Partido Alto, não tem similar. Gosto muito dos tambores cubanos. Mas, a nossa percussão é inigualável. O samba é um produto cultural brasileiríssimo!

20083655 Monk 9f930014e12cda60f09fd68f057242b6 cd-bb-king-live-in-france-D_NQ_NP_14173-MLB4279583878_052013-Fhttp://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Ícones do SambaElizeth Cardoso 01

O jazz carrega o carimbo made in the USA. Mas, músicos bons e inovadores de qualquer lugar do mundo podem tocar jazz com maestria. Já o samba, não! A marcação do surdo, tamborim, pandeiro, o som da cuíca, o cavaquinho, e a bateria de um Milton Banana+, Dom um Romão+, Portinho, e tantos outros, ninguém consegue nem chegar perto.

Acabem com esse jazz, essa “merda”.

2_Louis_Armstrong.jpg cd-bb-king-live-in-france-D_NQ_NP_14173-MLB4279583878_052013-F Ray Charles  Janis Joplin

O jazz é filhote do blues melancólico, tipo  fossa, revoltado, mas, conformado. O jazz, segundo Ruy Castro, em a Folha de São Paulo:  “não se limitava a descrever um gênero musical ainda de fraldas, sem voz e sem rosto. Estava mais perto de sua origem, a gíria “jism”, significando força, energia, vigor, coragem, virilidade, tesão- que evoluiu para “jizz” e, quando chegou a “jazz”, já queria dizer festa, farra, agitação, azaração, orgia”. Ouvi de idosos de Manhattan a expressãoacabem com esse jazz, esse barulho, essa merda”.

O jazz foi criando força nos bordéis, nos inferninhos. Diziam: ”Músicos de jazz são viciados em heroína”. Moças de bem não se juntavam aos músicos do ritmo “diabólico”. Mesmo perseguidos, discriminados, jazz e samba foram ganhando força por divertidos, rebeldes e sexy.

Centenário do Jazz e do Samba

Diferentemente do Brasil, nos EE.UU universidades, Rádios, TVs, têm departamentos, bibliotecas, professores, Mestres, de Jazz. No Brasil, pesquisadores do Samba são esparsos, e poucos. Um ou outro interessado escreve crônicas, publica resenhas. Edita livro de leitura restrita.

2017Banner Enquanto nos Estados Unidos há uma diversificada e intensa celebração do Centenário do Jazz, no Brasil, governo federal, estadual, municipal, escolas, universidades, TVs, Rádios, nem sabem do Centenário do Samba. Quando muito, mencionam sem a devida importância.

Quanto custará à Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, programas nas TVS e Rádios celebrando o Samba?

Não um programa mixuruca. Falo de programa Especial em horário nobre por ser o samba o Ritmo que identifica o Brasil. Como o tango identifica a Argentina. O mambo e a rumba identificam Cuba. Especial repetido várias vezes ao ano. É Cultura, Educação, Informação, para todas as idades e gerações brasileiras.

Samba e Jazz em Nova York

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Foi Paulo Nascimento, jornalista, trabalhando nas Nações Unidas, e meu primeiro room mate em NY, na Prince Street, Village, quem me levou ao Blue Note, casa- referência mundial de Jazz. Ainda peguei ícones do jazz na Rua 52 famosos por gente como Billie Holiday, Monk, Charlie Parker, Ray Charles. Bares frequentados por escritores, jornalistas, pintores, artistas rebeldes. Estava em Nova York quando Clint Eastwood filmou Bird- Fim do Sonho, sobre Charlie Parker. Bird, grande saxofonista, consumido pela heroína.

Os anjos brasileiros de Miles Davis

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Há histórias, filmes, historietas, de famosos do Jazz. Conto uma: Aos sábados, havia pelada no Central Park. Lá bati bola com veteranos do futebol mundial e conheci Lafaiete famoso zagueiro lateral do Fluminense ( o terceiro da esquerda para a direita, de pé).

Ele com a sua mulata Tereza trabalhavam na residência de Miles Davis, próxima ao Central Park. Miles cheio de grilos, já cego de um olho, vez por outra, recebia músicos brasileiros. Na onda, consegui entrevista-lo para o jornal The Brasilians que criei, e editei por 25 anos consecutivos. Tereza e Lafaiete foram os anjos brasileiros do gênio Miles Davis.

Carmen Miranda e a Bossa Nova

51t+iLOCSsLCapaLP_ show carnigie Hall Bisnetos, netos, sobrinhos, afilhados, de esquerdistas radicais e maria- vai- com- as- outras da imprensa, universidades, fizeram com a Bossa Nova o que seus avós, pais, tios, fizeram com a Carmen Miranda.

Como ela fez sucesso fora da manada, da patrulha ideológica, e ainda por cima nos EEUU, disseram: Carmen Miranda ficou americanizada. Ela sofreu muito com essa calunia. Escreveu em seu testamento “quero ser enterrada no Brasil”. E foi. Fechando a boca da esquerda mobilizada dos anos 50.

A Guerra Fria estava em seu auge quando aconteceu o Show de Bossa Nova no Carnagie Hall em Nova York. O antiamericanismo vazava pelos poros (inclusive dos meus) e fervia a favor da União Soviética. Os mobilizados atacavam: “Traidores, golpistas, entreguistas, bossa nova não é samba, é filha bastarda do jazz”.

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Música não tem fronteira. Aproxima e mescla culturas, povos, gerações. Bach, Beethoven, Mozart, Strauss, estão nas composições de rock, funk, pagode, sertanejo. Americanos: compositores, músicos, cantores (as), mídia, adoraram a bossa nova. Milhões de discos foram gravados com o som do sax de Stan Getz, pela voz de Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Frank Sinatra. Promoção mundial do Brasil e seu povo. Que o Rock in Rio e o Brazilian Day continuam a fazer.

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O violão de João Gilberto, Manhã de Carnaval no filme Orfeu Negro, ou Orfeu do Carnaval, de Luis Bonfá com Antonio Maria, as músicas de Tom Jobim, o embalo de Sergio Mendes, a voz de Astrud Gilberto, e de muitos outros, abriram espaços para a música brasileira.

E, mais uma vez, nossos governantes, intelectuais, mídia, (sempre ideologicamente patrulhados), não souberam dimensionar e promover aquele momento maravilhoso, e tantos outros, em benefício do Brasil. Como o Jazz em benefício dos Estados Unidos. Se a missão era para abrir portas para os Estados Unidos, Nelson Rockefeller levava Louis Armstrong em sua viagem. ( O presidente Juscelino entre Louis Armstrong e Ataulfo Alves, no Palácio do Catete, Rio)

Na Europa, o samba convidava para o Carnaval, Bahia, Amazônia, Pantanal

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Baden Powell lotava teatros, praças, em Paris, Alemanha, Itália, Japão. Vinicius de Moraes, Maria Creuza, Toquinho, e na sequencia Elis Regina no Olympia de Paris, o filme Um Homem e uma Mulher com O samba da Benção, ou da Oração, ou Saravá, cantado por Pierre Baruh, colocaram o Brasil no topo do mundo. Com qualidade e alegria.

A Igreja e o Jazz.

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O jazz foi acolhido e protegido pelas Igrejas Evangélicas. É raridade músico, cantor, cantora, de qualidade e fama, que não tenha se criado nos corais evangélicos. A Igreja Católica mecenas de grandes cantores líricos na Itália, no Brasil, não se destaca por educação e proteção musical em igrejas, universidades. Criou seus padres- cantores- atores carismáticos.

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Nos Estados Unidos, respeito ao Jazz, suas origens, crenças, ícones, e seus muitos interpretes famosos, milionários, influentes, contribuíram para que o país elegesse o seu primeiro presidente negro. Barack Obama é muçulmano. Mas, Obama presidente dos Estados Unidos não inventava dor- de- dente, desculpa esfarrapada, para não ir à festas públicas.(2.Beyonce faz show com coral gospel. E não se sente pecadora por eletrizar multidões com seu corpo e voz. Steve Wonder, Diana Ross,Tina Turner).

No Brasil, há governador, prefeito, mídia, dos “radicais da fé”, desprestigiando e sabotando eventos populares. Atacam as origens do samba e a sua profunda ligação com o povo carioca e baiano. O resultado desses ataques está na escassa presença de nova geração de sambistas. que reagir a isso! ( Mas, eis que de repente, a gente descobre entre radicais da fé, radicais da corrupção, e o samba continua).

A Igreja e o Samba

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http://abcdáriomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Cartola  Nelson Cavaquinho 30702 http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Aldir Blanc Abcdario Musical do Chinelinho - João Bosco candeia

http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Jorge Ben Jor http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Ícones do Samba paulinhokellyfuzaro http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Alcione http://abcdáriomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Zeca Pagodinho WBatista

GRANDES VOZES - MILTINHO29000960http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Ícones do Samba http://abcdariomusicaldochinelinho.blogspot.com/ Chico Buarque Demonios da Garoa 1 89988c72d9f321eda1beae62c866782c_bezerra-da-silva-eu-no-sou-bezerra-da-silva-meme_3280-3300

As origens do samba, suas crenças, símbolos, ícones, foram (são) difamados, atacados, perseguidos, pela salada mista “ideológica”: Radicais religiosos: “o samba é obra do Diabo”. Esquerdistas imbecis “o samba é opio do povo a serviço do capitalismo, do imperialismo ianque“. O Rio de Janeiro é exemplo de resistência e sobrevivência do samba. E do Carnaval.

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Em recente desabafo de quem promoveu samba, Carnaval, por 35 anos no “tambor do mundo”, expliquei: Carnaval não é ópio do povo. Corrupção é ópio do povo (ver www.oreporternahistoria.com.br). 1. Jamelão e Beth Carvalho meus convidados homenageados no Carnaval do Brasil, Waldorf Astoria, NY)

Agredir e perseguir o samba, suas raízes, ícones, é minar as já enfraquecidas raízes da nacionalidade. O desafio não é  mobilização para “proibir” marchinha de carnaval e sambas. É entender para defender, sem radicalismos, o samba, suas raízes, seus rituais e defende-los dos ataques à seiva, aos símbolos e ícones que fazem o Samba ser o que é: beleza, poesia, alegria, Brasil.

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Em 100 anos, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e a experiência comunista da revolução de outubro de 1917 não existem mais. O Jazz continua esteio da cultura norte-americana. Dele desabrocharam Pop, Techno, Hip Hop… O Samba, há cem anos levando porrada, pra escanteio pela grande mídia, balança, mas, não cai. Passou pela Direita, Esquerda, Ditadura, Populismo, Corrupção. Suas variações alegraram gerações: Samba-Canção, Samba de Gafieira, Samba Enredo, Samba Exaltação, Samba Partido Alto, Samba de Breque, Sambalanço, Pagode…

São tantos bons do Samba e do Jazz que uma galeria de imagens é sempre incompleta. Difícil escolher trilha sonora.

Trilha sonora 1. https://youtu.be/j1bWqViY5F4

https://youtu.be/jdqZk-0Dghk

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