O cuiabano da Copa do Mundo

Trilha sonora:

Político que respeita o seu povo governa para os vivos. Para os que morreram. Para os que vão nascer.

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Fico imaginando, com que e de que brincava o menino Eurico Gaspar Dutra? Quando ele nasceu não havia futebol no Brasil. Tinha 13 anos quando a Guerra do Paraguai chegou ao fim. Nas ruas e casas da cidade lembranças e histórias da guerra estavam vivas.

Cuiabá projetou-se como centro administrativo e cultural porque nela viveram comandantes da guerra nas nossas fronteiras. Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto governaram a província de Mato Grosso. Saíram de Cuiabá para o Rio de Janeiro. Proclamaram a República e presidiram o país.

Eurico Gaspar Dutra não foi bom de bola.

Mas, muito bom em matemática. Cedo chegou ao oficialato. Em 1936, Ministro da Guerra de Getúlio Vargas. Em 1945, candidatou-se à presidência pelo PSD/PTB. Venceu seus adversários: Eduardo Gomes da UDN e Iedo Fiúza do PCB.

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1. Na inauguração da Via Dutra/São Paulo-Rio. Obra fundamental à modernização do país. 2. Com Dutra, argentino não dançava tango no nosso quintal. Na foto, com Juan Peron e Evita. 3. Com o presidente Truman. 4. Welcome Dutra.

Dutra foi o presidente da transição ditadura-democracia. Eleito pelo voto popular. Em seu governo uma nova Constituição. Na dúvida, sua expressão preferida, “Consulte o livrinho”. Importantes obras de infraestrutura: a hidrelétrica no rio S. Francisco; a via Dutra ligando as duas maiores cidades do país; o Estatuto do Petróleo; a primeira refinaria; o Conselho Nacional de Economia; Casas Populares; Escolas para Normalistas; Instituto do Cego; inauguração da TV no Brasil; sede da Copa do Mundo; Maracanã.

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1. O maraca. 2. Selo pela construção do Maracanã. 3. Didi marcou o primeiro gol no novo estádio. 4. A  folha seca daquele que jogava bonito. Chamado de Mr. Footbal pela imprensa europeia.

Mata protegendo o rio Maracanã. Viveiro de pássaros dentre os quais o maracanã-guaçu. Várzea imensa usada para corrida de cavalos. Prefeito do Rio: o general Mendes de Morais. O Brasil ainda não era o “país do futebol”. Mas, havia participado de três Copa do Mundo. A Europa limpava escombros da Segunda Guerra Mundial. O presidente Dutra aceitou sediar a Copa de 1950.

Em 2 de agosto de 1948, tiveram inicio as obras do estádio para 155.250 pessoas na arquibancada. 93 mil lugares com assento. 31 mil lugares para a “geral” em pé. 30 mil cadeiras cativas. 500 lugares da tribuna de honra. 250 camarotes. Setor da imprensa para vinte cabines de transmissão. Trinta e dois grupos de sanitários. Trinta e dois bares. 1. 500 homens começaram as obras e mais 2. 000 nos três últimos meses da construção. Um ano e dez meses depois o estádio estava pronto para a Copa.

O Maracanã foi inaugurado em 16/06/50 pelas seleções do Rio de Janeiro X São Paulo. Os paulistas venceram por 3 a 1.

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O nome oficial do Maracanã é Estádio Mario Filho, jornalista, irmão de Nelson Rodrigues./Didi marcou o primeiro gol no novo estádio/Tínhamos tudo para ganhar. A pedra no caminho foi a Suíça. Brasil 4 X México 0. Brasil 2 X Suíça 2. Brasil 2 X Iugoslávia 0. Brasil 7 X Suécia 1. Brasil 6 x Espanha 1. Para o título bastava o empate. 199.854 pessoas das quais 173.850 pagantes assistiram a vitória do Uruguai por 2 a 1.

Friaça marcou para a seleção. Aos 21 minutos Ghiggia driblou Bigode e serviu Schiaffino para o empate. Aos 34 minutos, outra vez Ghiggia dribla Bigode, e marca o gol da vitória. No Maracanã: O milésimo gol de Pelé/A maior goleada Flamengo 12 X São Cristovão 2/Espanha 10 x Taiti 0 (Copa das Confederações 2013) /O último jogo da URSS x Brasil.

O maior show pagante foi o de Tina Turner: 188 mil pessoas. Madonna com 120 mil. Sandy e Junior com 70 mil. Frank Sinatra 60 mil. Paul Mc Cartney 50 mil/Zico, com 333 gols, o maior artilheiro do Maracanã./Sete jogos na Copa do Mundo 2014./Abertura e encerramento das Olimpíadas 2016.

Eurico Gaspar Dutra

Não encontrei nada sobre a infância de Eurico Dutra. Mas, lembro-me do Dutra Fumo Bom. Um armazém que vendia de tudo um pouco. Famoso pelo fumo de rolo picado. Dizia-se ser de parente do presidente.

ÍndicedutrinhaO Dutrinha foi o up grade em minha curta carreira no futebol. Primeiro, descalço, foram os espaços mais largos das ruas de chão e praças, com bola de pano e borracha. Depois, o campo do Colégio São Gonçalo e do Colégio Estadual. O estádio Eurico Gaspar Dutra, Dutrinha, passou a ser o point do campeonato cuiabano de futebol.

Ouvi do poeta e jornalista Silva Freire: “estudantes cuiabanos no Rio de Janeiro foram ao Palácio do Catete dizer ao presidente que Cuiabá não tinha o seu estádio de futebol”. Empolgado com a construção do Maracanã, “o maior do mundo”, na mesma hora, Dutra autorizou levantar um campo de futebol municipal com verba federal.

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A área pertencia ao exército. Na frente, a Cadeia Pública. Atrás, o Arsenal, dos tempos da Guerra do Paraguai, cercado por pés de pitomba, cajazinho, mangueiras. Vivi na área dos oito aos 12 anos. Atualmente, é  SESC/Arsenal, com excelente agenda cultural.

No Dutrinha tive meus quinze minutos de fama no time do Mixto Esporte Clube do saudoso mestre Ranulfo Paes de Barros. E nele, à esquerda, na ponta da última arquibancada, construí a primeira cabine de transmissão esportiva de Mato Grosso. Ou jogava, ou transmitia as partidas pela Rádio A Voz do Oeste.

Trinta anos depois voltei. E lá estava a cabine de dentro da qual eu sonhava ser Jorge Cury, Oduvaldo Cozzi, Antonio Cordeiro. Recordo com emoção a transmissão da primeira partida noturna. A iluminação do estádio numa grande festa com Fluminense X Mixto. E também a minha última locução esportiva. Despedi-me para “ir trabalhar por um tempo na Rádio Clube e no jornal Correio de Corumbá”. E, não voltei. De repente, Brasília/Moscou/Nova York…

A placa do nascimento

Pensei na Copa de 50. Pensei no Maracanã. Pensei em Dutra. Pensei na placa que eu via na parede da casa onde nasceu o cuiabano presidente do Brasil. Placa que sempre me deu rumo. Placa talismã. Placa referência. Placa a dizer que eu não era um desgarrado. Tinha um lugar no mundo. Uma bússola histórica nas minhas andanças. Pensei na placa e resolvi encontra-la.

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1. Escola Modelo Barão de Melgaço onde fiz o primário. Atrás, um campo de chão de onde via-se a casa do prefeito Manoel de Arruda. Na parede externa, à direita, a placa do nascimento do cuiabano que seria o 16. presidente do Brasil. 2. A Matriz onde fiz a primeira comunhão ao lado da escola. 3. Viveu simples. Morreu simples. Um cuiabano honesto. 4. Um presidente honrado. Mas, pouco lembrado. Ele disse: “A Europa sofreu muito com a guerra. Vamos sim sediar a Copa do Mundo”.

Mas, onde, e com quem está, a placa do nascimento de Eurico Gaspar Dutra? Um ícone da história de Cuiabá. Do Brasil. Varei noite de muito frio, pensando na placa. Enviei mensagens pedindo ajuda. Ate o fechamento deste RH, as respostas são desanimadoras.

Será que teve o mesmo destino da Jules Rimet?

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Ao sagrar-se Tri campeão do mundo a taça ficou para sempre no Brasil. 30 cm. de altura, 3, 8 kilos em ouro puro. No dia 28/12/1983 foi roubada e derretida. Os ladrões foram descobertos.

Dr. Benedito Arruda, do Rio, desabafa: “Na cretinice e covardia que dominam o país ninguém foi preso por roubar e derreter o símbolo maior da nossa cultura esportiva. O Graal do futebol brasileiro”. “Na cultura da impunidade, uma merreca”. “O exemplo segue copiado”.

“Phoda-se a Taça”!

“Phoda-se Pasadena! Phoda-se os milhõe$ desviados nas arenas e obras superfaturadas. “Phoda-se a história”. “Faz parte do pão e circo imbecilizar o povo”. “Roubamos, mas, fazemos”. “Ganhamos mais uma taça”. “E para as eleições, isso é o que interessa”. “A placa do nosso ilustre conterrâneo não era de ouro. Mas, deveria ter valor acrescentado. Espero que você a encontre”.

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“Eu assisti ao único Presidente da República, o cuiabano Eurico Gaspar Dutra, descerrar a placa da falsa casa onde nasceu”. “Onde está essa placa”? “Além do Dutrinha (pequeno estádio de futebol), não encontro outro marco da presença do cuiabano ilustre em sua cidade natal”. (Dr. Gabriel Novis Neves. Primeiro reitor da UFMT).

Dutrão

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Quando criaram a SECOPA, com tantas notícias ruins jorrando da minha cidade, e na empolgação de Cuiabá sediar jogos do grande evento, sugeri: massificar o nome Dutrão para a Arena Pantanal. Criar espaço multimídia similar ao do museu do futebol no Pacaembu/SP. Faixas, cartazes, camisetas, com: Bem vindos a Cuiabá. Terra de Eurico Dutra, o presidente da Copa.

Dutra, Dutrinha, Dutrão, outra vez campeão! Há jornalistas esportivos, e familiares, com acervo suficiente para documentário, DVDs, filmes, sobre o futebol cuiabano e seus craques.

Ainda há gente como eu que sonha o sonho do poeta Silva Freire: termos em Cuiabá um Panteão/Memorial para o translado dos restos mortais de nossas figuras históricas. Mas, se não concluíram o Memorial Candido Mariano da Silva Rondon, em Mimoso, sua terra natal, sinto que continuarei sonhando.

Não li. Não ouvi. Não vi.

Presidente Dutra - Foto 09 -  Inauguração do Maracanã - 1950

Menção ao cuiabano. Ao presidente da República que prestigiou e incentivou a construção do Maracanã. O presidente da Copa do Mundo no Brasil. De todas as Copas, a de 50, é a que mais devíamos ter vencido. Por causa daquela derrota carregamos cicatrizes na alma e tatuagens no corpo.( Na imagem, o presidente Dutra no Maracanã)

Mas, não se rasga nem se esconde a história. Da derrota vieram vitórias. Estamos a um gol do Hexa. O presidente Dutra merece ser lembrado! Ainda dá tempo para incluir a sua imagem no show de Abertura da Copa do Mundo.

Trilha sonora

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Touradas de Madri não foi criada para celebrar a esmagadora vitória sobre a Espanha e delirantemente cantada no Maracanã. É uma marchinha de carnaval gravada em 1937 por Almirante. Também por Carmen Miranda, Gilberto Alves, Jorge Goulart. (Neste RH com Trio Irakitan).

Braguinha: “Nunca esperei que Touradas de Madri, a marchinha que fiz com meu amigo Alberto Ribeiro, pudesse um dia ser cantada por 200 mil pessoas de uma só vez. Por isso não cantei. Apenas chorei. Foram lágrimas doces, suaves”.

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Não foi fácil convencer os camaradas do monopólio estatal de gravações. Mas, conseguimos emplacar o primeiro disco com música brasileira na URSS. Em Moscou, acompanhei o cantor Jorge Goulart aos estúdios para gravarmos Touradas de Madri. A mixagem não saiu boa. Mas, os russos gostaram da música. Anos depois, convidei Jorge Goulart para o Carnaval do Brasil, no mundialmente famoso Waldorf Astoria Hotel, Nova York.