Em busca do tempo perdido

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DEZ ANOS.

E lá se foram dez anos sem alternativas de desenvolvimento e progresso. Dez anos anestesiando o impulso criador da cidadania. Inchando e sangrando o país. Embrutecendo a nação. Mesmo com  propaganda e otimismo presidencial raros são os setores nacionais com números positivos. Reais.

As duas maiores capitais sitiadas.

Cidadão-tiro ao alvo. Em tempo de guerra. Terrorismo civil facilitado pela desordem política. Má gestão pública. E a desmoralização de instituições. A maior delas: a do poder Legislativo federal, estadual, municipal. Na gestão Executiva não há um só município onde não haja corrupção. Roubo puro e simples de dinheiro público. O desvio de recursos federais continua.  Mais sofisticado. Com aval de gente graúda em posições estratégicas da máquina administrativa. A partilha prossegue.

13

Se o número 13 nos trouxer sorte, quem sabe, um dia, o Judiciário deixará de ser a mais lucrativa indústria “legal” do mundo. Com os intermináveis Recursos cabíveis. Embargos declaratórios. Embargos infringentes. “Penas excessivas”. “Penas pecuniárias”. Recursos aceitos. Infindáveis. Lucrativos.

Três jogos por 4/10/15 bilhões de reais.

Em Cuiabá, com menos de um milhão de habitantes, devemos fechar 2012 com uns 400 assassinatos. Com mortes no trânsito e por balas o Brasil lidera com  aproximadamente 100 mil mortos, anualmente. Mais que as mortes no Vietnam, Iraque, Afeganistão.

Mas, com a bola nos pés. Na Copa mais cara do mundo. Três jogos por 4/10/15 bilhões de reais. So far. Temos que tirar o 20 e ficarmos com o 13 na esperança que este seja um número de sorte e não de azar.

Em busca do tempo perdido.

 

Recém empossada a presidente Dilma disse que entre os seus livros preferidos está À La recherche du temps perdu. O título Em busca do tempo perdido, além de romântico, caiu bem ao paladar brasileiro sempre cheio de saudade. Mas, o livro de Marcel Proust não fala disso.

E Dilma não pode ficar em busca do tempo perdido pelo país por causa de Lula e a turma dele. Nem tampouco folheando as loucuras de Fernando Collor, sujeito pendente no Supremo Tribunal Federal. Responsável pela política externa do país no Congresso Nacional.

Não consegui terminar de ler.

Digo a verdade. Não consegui terminar de ler. São 3.500 páginas em sete volumes. Andei pelos volumes Tempo reencontrado e Sodoma e Gomorra. O autor resume o seu legado literário em “o pensamento é que deve recriar as coisas”. Para um enclausurado a teoria é mais forte que a pratica.

Marcel foi um menino asmático. Frágil. Não brincava como os outros meninos. Vivia cercado pelo mimo das tias. Com a morte da mãe isolou-se mais ainda.  Foi recusado pelo serviço militar. Não ir à guerra defender seu país era devastador para a imagem e o caráter de um jovem europeu.

A obra é reportagem de época. Paris das Luzes. A Europa da primeira guerra mundial. Proust foi um precursor da psicanálise na literatura. Um Freud dos livros.  Leitor de tudo. Com boa cultura livresca. Praticamente enclausurado foi fundo nas minúcias da vida, do cotidiano. Descobridor de detalhes. Ele buscava nas letras o tempo perdido de sua juventude.

Sem o Rádio e a TV o livro dava arte, música, cultura, religião, memórias. Proust ta mais para um enciclopedista. Livro da moda. Um clássico da literatura quando os livros eram a maior forma de educação e cultura da humanidade. As pessoas, de fato, começavam e terminavam calhamaços como D.Quijote, Guerra e Paz, Enciclopédias, Dicionários, Almanaques. Dos contemporâneos de Marcel Proust eu prefiro Romain Rolland. Um detalhista de caráter, cores, situações, amores.

Cada época, seu livro.

Com o advento do pocket book grandes obras ficaram disponíveis a preços populares. Era in entrar no metrô de Nova York e de Paris, ou sentar-se numa praça, parque, calçada de museu, cinema, lendo Virginia Wolff, Aldous Huxley, Jean Paul Sartre, Simone, Joseph Conrad, Albert Camus. Arthur Miller, Capote.

E a garotada politizada mostrava orgulhosos os livros de Nietsche, Marcuse, Castaneda, Galeano, Regis Debray, Gabriel Garcia Marques, Che Guevara. O livro na mão servia de senha para status, sinal de inteligência, encontros e namoros.

Dilma jogou luz na escuridão da ignorância.

Ao dizer que lê a presidente Dilma jogou luz na escuridão da ignorância. Da mediocridade. Incompetência. Burrice. Colocou borrifos de esperança na desesperança causada pelos maus exemplos da instituição presidência da República. Ilumina caminho para o tempo perdido em dez desastrosos anos em Educação, Cultura, Política Externa.

A diplomacia presidencial de baixa qualidade distanciou o Brasil dos centros de Tecnologia, do Saber, do Conhecimento, da Ciência, da Modernidade. Sugiro que a presidente leia:

As memórias de Henry Kissinger, Winston Churchill, Margareth Thatcher, Golda Meyer, de Bill Clinton, Ghandi, Willy Brandt. Tudo que puder de Bismarck. Rio Branco. Oswaldo Aranha. Silveirinha. Roberto Campos. Delfim. Nóbrega. Biografia é um excelente gênero para quem lida com personalidades, com líderes mundiais.

Dilma não precisa e não terá tempo para ler catataus. Ponha gente capacitada do Itamaraty para lhe dar briefing históricos, diplomáticos. Inside info de perfis de mandatários e personalidades com os quais ela pode se encontrar, conversar.

Cercar-se de pensadores do novo. De escritores. Cientistas. Poetas.

Logo após a posse de Dilma sugeri neste espaço que ela não entulhasse a sua agenda com figuras carimbadas do mesmismo político-eleitoral. Que se livrasse de espertalhões e bajuladores. De dinossauros que usam a nostalgia “ideológica” em proveito pessoal e de grupinhos.

O Brasil cordial foi para o espaço. 

Chacinas, torturas, incineração de corpos. Não se deve blindar ou esconder  a banda podre do país. Podemos ser campeões em perversidade. “Ela coube inteira no forno. Só a coloquei lá dentro, fechei e fui embora” relatou o jovem cuiabano que assassinou e incinerou  uma moça no forno de sua pizzaria. Uma criança de 4 anos foi arremessada num rio a 25 metros de altura. Crianças atacam professoras. Jovens esbofeteiam idosos. Culpar a droga e a falta de religião é uma tangente fácil, cínica. A canalhice de governantes contamina pessoas. Embrutece o país. Estamos assombrados, céticos, cínicos no salve-se quem puder. E o país que se phoda.

A mulher pode ajudar a desbrutalizar o país insistindo em valores morais.

Insistir na aprovação do novo Codigo Penal. Viabilizar recursos para a construção de prisões. Muitas prisões, sem lixo humano. Penitenciárias para graduados e colarinhos branco. Usar a caneta e a determinação de governo não patrocinando lixo, grosseria, vulgaridade, na TV. A principal educadora do país. A crueldade e a impunidade no trato com recursos públicos incentivam a crueldade com a pessoa fisica.

O Brasil Carinhoso, boa idéia mal trabalhada.

O Brasil Carinhoso perde força no meio da grosseria. Do escracho. Baixaria, baboseiras, superficialidades, irresponsabilidades. Em horário nobre, e outros, da grade televisiva brasileira. GTB que não discute. Não reflete. Não participa dos anseios nacionais por melhorias éticas. Noticia, mas, não informa. Quando informa, não educa. Critica, quando interessa, para mais vantagens.  Pouco opina. Praticamente zero em comentário e  análise de polític externa. Coloca legenda de voz em imagens vistas em todos os canais. Consolida-se no país a cultura do Tudo por Dinheiro. “Genialidade” vidiotizante de TV-concessão-pública.

Dilma não é Cristina “Evita” Kirchner.

TV é concessão pública. Mas, há muito deixou o interesse público pelo objetivo único de ganhar audiência. Mais IBOPE. Mais publicidade. Mais faturamento. Mais poder político. Manipular a imagem e a carreira de políticos espertalhões. E faturar nos dois lados da moeda de troca. Vejo a TV brasileira como um ente fora do contexto. Um ET que não tem nada a ver com a nação. Só com seus interesses. Mas, Dilma não é Cristina “Evita” Kirchner. Nada de censura. Nada de perseguição.

Descartar lixo televisivo.

Ordenar o BNDES, Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobrás, para ficarem longe de idiotioces televisivas. Ou participa e colabora do esforço nacional de desbrutalizar o país ou está fora da polpuda verba publicitária do governo. Mas, para ver e enxergar. Captar e traduzir o lixo da televisão é preciso cercar-se nos próximos dois anos de pensadores modernos. Gente criativa de boa formação acadêmica. De cientistas. Escritores. Poetas. Publicitários da modernidade. De alquimistas de sonhos.

Acabar com a concessão pública de Rádio e TV.

A presidente Dilma deve terminar o seu mandato acabando com a concessão pública de Rádio e TV. Essa decisão extraordinária mudará o Brasil, para bem melhor. TV no Brasil é um family bussiness. Cada familia que se vire. È preciso ensinar o povo a exercer o poder de sua audiência. È o consumidor que deve “censurar”. Que deve mostrar seu senso cultural, seus principios morais. Pressionar patrocinador a não bancar programa que não lhe interessa. Programas e principalmente novelas que não ajudam a nação a sair do atoleiro moral e cultural.

Há décadas estamos nessa “linha” cultural

Numa tietagem improdutiva. Babaca. E qual tem sido o resultado? Mais crime. Mais brutalidade. Mais ingnorância. Mais baixa consciência politica. Mais egoismo nacional. Mais impunidade. Por ser classe C esta só merece o grotesco, o feio, o absurdo, a picaretagem, o escracho, o vulgar, a malandragem, o jeitinho, com uma geladeira e um ventilador? A vanguarda operária esfarelou-se. Classe média sem consciência politica é um barril de pólvora. Mais brutalizada a classe média danificará o que resta dos alicerces da nacionalidade. Viveremos sob os horrores do grotesco e da grosseria coletiva.

Chega de isenção fiscal para TV. Do toma lá, da cá.

Chega de isensão fiscal. De cano no INSS. De quem fatura milhões à custa de concessão pública. O governo  tem que parar de patrocinar porcaria, lixo televisivo, merreca cultural. Gente da “vanguarda proletária” que fala, da boca para fora, em enquadrar a mídia não vai gostar da ideia de acabar com a concessão pública. Controlar de cima para baixo é sempre bom. Ditar o que quer. Manipular na safadeza autoritária, e com verbas estatais, é ótimo. È o eterno toma lá, dá cá. Mais verba, mais apoio eleitoral.

Usar o café da manhã para amenidades produtivas.

Usar as reservas da nação. È só convidar.

Conversa inovadora. Papo de conhecimento. De alternativas. Um café-bolo de queijo com Adélia Prado. Um almoço com a mineira Maria Elvira Salles Ferreira. Uma “conversa mole” com Caetano Veloso. Uma dica de Delfim. Ouvir militar graduado da reserva, que sabe das coisas, não fere a hierarquia militar. O mesmo com embaixador aposentado. Reitores de universidades. Gente com 30/40/50 anos dedicados ao Brasil.

Para melhorar o seu desempenho de gestão Dilma tem que deixar idéias novas entrar na presidência. Driblar a patrulha “ideológica de antanho”. Fazer atalhos. Cercar-se de pensadores do novo e não do velho. A turma dos oito anos foi eleitoralmente boa. Mas de baixa consciência política renovadora. Repetidora de mantras e dogmas. Manipulada pela “vanguarda” esperta enveredou-se pelas práticas e erros conhecidos pela história do autoritarismo. Do voluntarismo. Do culto à personalidade.

Diplomacia presidencial charmosa, cativante.

Dilma não deve deixar-se engessar por manobras de assessores da bajulação de olho em promoção pessoal. Nem por caolhos ideológicos. Por exemplo, em Londres, visitar Margareth Thatcher. Telefonar para Hillary Clinton desejando-lhe melhora. Pegar o celular vermelho e levar um papo com a brasileira Sílvia, Rainha da Suécia. Conversar com Ângela Merkel. Praticar uma diplomacia presidencial elegante. Cativante no trato. Ministro não substitui o charme de uma presidente.

  

“Terceiro mundo”. Hugo Chávez. Moreno. Noriega. Raul Castro. Cristina Kirchner. Evo Morales. Ditadores. E sanguinários. Delegar para Patriota, Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Samuel Pinheiro, e outros “gênios” da estratégia de “pancadas de baixa intensidade nos Estados Unidos” para a dobradinha com Chávez, Gadafi e o baixinho do Irã. Amigos e irmãos do “tempo perdido”.

Abrir as janelas da presidência à Modernidade.

Limpar mofo. Acabar com os “cupins”. Dilma está correndo atrás do prejuízo. Dois anos de seu governo apagando incêndio. Acomodando para não explodir. O tempo perdido com a inutilidade das muitas viagens da “diplomacia” pessoal-presidencial não se recupera. O Bebê de Rosemary é filme com Mia Farrow. Com Dilma, nesses dois anos que lhe restam, tem que ser bola pra frente.

Interlocutores e alvos da diplomacia presidencial brasileira foram expulsos do trono. Alguns presos. Exilados. Esmagados pelo seu próprio povo. O tempo de presidente não lhe pertence. È da nação. E foram tempo e recursos perdidos. Ruins para o Brasil nos centros decisórios. Imagem e percepção da diplomacia brasileira foram chamuscadas.

A diplomacia pessoal desviou o foco de prioridades nacionais.

Foi usada para dobradinhas de negócios petrolíferos. Para nos meter na “fria” do Haiti transformando o Exército brasileiro de força de Paz e União em policia para combater gangues, traficantes, bandidos. Mais de um bilhão de reais na avidez de assento permanente no Conselho de Segurança Nacional da ONU. E delírio maior: lançar o nome de Lula para Secretário Geral das Nações Unidas. Uma jogada de marketing de Hugo Chávez praticada por Evo Morales ao descobrirem a “viagem” pessoal do presidente do Brasil. Alimentada por assessores “plantados”.

 

300 milhões de dólares do povo egípcio no nome de Alaa e Gamal filhos do deposto e preso ditador Mubarack estão retidos no Banco Credit Suisse. 36  milhões na Espanha. Milhões do povo líbio perdidos no mundo da especulação e da lavagem. Grande parte da década perdida pelo Brasil deve-se à baixa qualidade da diplomacia pessoal com gente dessa laia. Com “o amigo, líder, e irmão Gadafi”.

Ligação e apoio pessoal a ditadores. A governante com brutal desrespeito aos direitos humanos. Obras no exterior com aval, empréstimos, financiamentos, para empreiteiras patrocinadoras de eleições e “presentes”. Assim sendo a tarefa nos próximos dois anos não é revirar o lixão da herança. Ficamos uma década na agenda externa de Hugo Chávez. Há que criar uma agenda Dilma de política externa.

Recuperar a boa imagem da diplomacia brasileira.

Com os escândalos de corrupção nas principais manchetes e horário nobre do planeta. Com o jeito anárquico de tratar assuntos de Estado. O mau uso da diplomacia presidencial fez da política externa brasileira um ente not reliable. Nada pior para a diplomacia de um país do que ser tachada de não confiável. È aquela desgraça de frase atribuída a Charles de Gaulle, verdadeira ou não: o Brasil não é um país sério. Apelidos pegam. Escapulidas na noite com “assessoras” se descobre. Imagens, como cicatrizes, ficam.

Dez anos na vida de um país é muito.

Dez anos na vida de um jovem, de pessoa sadia e atuante, não é muito. Mas, dez anos na vida de um país, representa muito. Aeroportos construídos.  Ferrovias. Estradas. Portos. Hospitais. Escolas. Descobertas científicas. Duas gerações de formandos. Tivemos uma década perdida. Irrecuperável.

Continue lendo presidente Dilma.

Não se pode ficar em busca do tempo perdido. A que construir tempo novo. E não se consegue isso sem descartar lixo. Triturar entulho. Exonerar. Demitir. Pedir para se afastar. Sugerir que vá descansar e ditar memórias. È do velho que se constrói o novo. Que assim seja em 2013. Continue lendo presidente Dilma. È um bom exemplo. E a nação precisa de bons exemplos da presidência da República.

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