Os Intocáveis

 Trilha sonora> Janis Joplin Me and Bobby Mc Gee

 Na ausência de Justiça, o que é o poder constituído senão pilhagem organizada. Sto. Agostinho          

              

Muito antes do filme de Brian di Palma com Kevin Costner, Sean Connery, Andy Garcia e Robert De Niro, tive, em Nova Yorque, o privilégio de ver o seriado The Untouchables, em preto e branco. Reprise do original de 1957 com Robert Stack fazendo Elliot Ness o Procurador da Fazenda Nacional que conseguiu prender o blindado Al Capone.

Nos últimos trinta anos ouve-se falar: “Brasil país da impunidade. Colarinho branco não vai preso. Político no poder nunca é punido”. “A corrupção é endêmica e permanente. O cidadão tem que lutar contra essa patologia”. O partido de Luis Ignácio Lula da Silva foi um baluarte nas frases e discursos contra a corrupção. O Supremo Tribunal Federal sentenciou à prisão, político do poder. E colarinho branco. Há brasileiros contentes pela decisão do STF. Outros, furiosos. A maioria da nação, indiferente.

Condenados põem para fora uma qualidade da atual geração de líderes nacionais: a covardia. Pedem arrego. Choramingam. Querem o passaporte  de volta (vermelho de privilégios). Insistem em habeas corpus “preventivo”. Farão de tudo para não ser presos. Não cumprir a lei. È assim que a impunidade se cristaliza.

Blindagem

È um atalho do jeitinho. Mais uma safadeza made in Brazil. O mal feito é evidente. O cara está na marca do pênalti moral. Mas a sua turma resolve blindá-lo. A oficina com bons torneiros é cara. A pilantragem “legal” caríssima. O ministro da Justiça tenta sensibilizar magistrados com um “prefiro morrer que ir para uma prisão no Brasil”. O grupo político do ministro Cardozo está no poder há dez anos. O que fez para condenado ir para a prisão sem medo de ser morto lá dentro? Ele, o responsável pelo DEPEN- departamento penitenciário nacional- ministro da Justiça, com milhões de reais disponíveis, mais dotações orçamentárias, responsável pelos detentos do Brasil , dizer a verdade que disse, é bom ou mal sinal?

 “Prisão é resquício medieval”

José Dias Toffoli, ministro do STF: “Os efeitos pecuniários são mais contemporâneos. “Prisão é resquício medieval”. Ou seja: paguei, tô livre. O ministro que fez carreira no PT deveria saber que o direito penal anglo saxônico é o que mais aplica penas pecuniárias. Nos Estados Unidos, país do “money first“, a prática é generalizada, mas, dosada, com a perda de liberdade. Prisão no mundo capitalista, no mundo comunista, no mundo “talebanista, fundamentalista” não é “resquício medieval”. Frase bonita. Com as nossas principais cidades cercadas e atacadas, ministro do STF  fazer uma pregação como essa é ruim para o país. È escuridão no túnel.  È conversa de blindagem.  È  bom para os nossos “untouchables”, ao reverso.

 “Injustiça cometida pelo STF”

De repente, a máxima repetida em salas de aula, tribunais, botequins: “decisão da justiça não se discute, cumpre-se” é ignorada por celebridades, intelectuais, lideranças populares, que por manifestos se declaram indignados pela condenação de José Dirceu. Com menos ímpeto por José Genoíno. Quase nenhum por Delúbio Soares. Valério é o pária da turma a qual serviu com lealdade.

 “Julgamento político”

     

 Julio César, Jesus Cristo, Che Guevara, Leon Trotsky,  foram mortos por decisões políticas.

O assassinato de  Júlio César nas escadarias do senado romano foi político. Pôncio Pilatos ficou como o grande vilão da história cristã, mas, a condenação de Jesus resultou de decisão política dos chefões religiosos. Se eles tivessem escolhido Barrabás a história da humanidade seria outra. Jesus não foi condenado por corrupçaõ financeira.

A cabeça do Rei/Deus/Sol e de sua Maria Antonieta caíram “políticamente” no balde da revolução francesa. Todas as condenações dos camaradas e amigos de Lênin ( mais de 100) foram ideológicas, políticas. Trotsky, criador do Exército Vermelho, o primeiro na linha sucessória de Lênin, não foi condenado à morte por corrupção, por lavagem de dinheiro. O assassinato de Trotsky, no México, foi político. O suicídio de Getúlio Vargas foi uma resposta política.

Che Guevara estava com ferimentos leves e desidratado quando foi capturado. Sua execução foi uma decisão política. A renúncia de Fernando Collor foi política. Tanto que voltou senador da República. A qual ministro do Superior Tribunal Federal interessa, políticamente, a prisão de José Dirceu?  De José Genoíno? O julgamento foi o dos autos, do processo, após oito anos, às claras. Com ampla e irrestrita defesa dos réus. Formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro= crime. A indignação contra as decisões do STF essa sim é política, “ideológica”.

O primeiro na linha sucessória        

 José Dirceu “preparou Lula para a presidência”. “Ele costurou esquerda com direita liberal. Ele escolheu José Alencar para vice presidente. Lula sempre precisou de JD como facilitador de negócios, acordos e alianças. Não é por acaso que ao sair do governo JD vive de “taxa de sucesso”. Presidente do PT. Formulador. Estrategista prático e teórico. Homem de ações simples e complicadas. Ministro Chefe da Casa Civil, o pulmão do governo. JD era, naturalmente, o primeiro na lista para suceder Lula.

              Mas, em todo partido que se pretende único e ideológico, a luta interna é fratricida. È de foice e martelo. Grupos. Dissidências. Cada com a sua linha. Era pública a pretensão de Antonio Palocci, Ministro da Fazenda, devoto e fiel ao Chefe, em ser o ungido. Hoje, lendo os fatos e cifrões do lulismo recente, é fácil imaginar a preferência de Luis Inácio. Foi um simples erro de conduta política? Mordeu-lhe a mosca azul do poder? Ou alguém detonou as pretensões e a carreira de José Dirceu? Como o Deus soviético fez com Trotsky. Kirov.  Zinoviev. Kamenev. Rykov. Nadejda, esposa de Lênin, e com centenas de camaradas.

Viaja pela web a pergunta: a quem interessava a morte de Trotsky? A quem interessava a queda de Zé Dirceu? São conjecturas. Delírios internáuticos. Mas, é sabido que praticamente nenhum dos “originais” da revolução de Outubro, dos camaradas de Lênin, permaneceu ao lado de Stálin. Desapareceram. Os que sobreviveram aos expurgos foram postos para escanteio. Viveram e morreram no ostracismo.

Capone seria prefeito de Chicago

     

   Al Capone com o subchefe da polícia de Chicago. Para mim, Rod Steiger foi melhor Capone que De Niro.

A condenação e a prisão de Al Capone foram politicamente mantidas. Todo bandido popular tem um pouco de Robin Hood. Os operários mal pagos não podiam beber o trago de cada dia. A Lei Seca estava em vigor. A Grande Depressão chegando. Al Capone resolveu dar ao povão a Bolsa Uísque. Sua popularidade ameaçava os chefões políticos. Candidato, Al Capone seria eleito prefeito de Chicago.

Valério, o “contador” de Al Capone.

“Estão fazendo de Marcos Valério Fernando de Souza o pária da turma a qual ele serviu com facilidades valiosíssimas”. Os contadores (guarda-livros) de Capone recebiam e movimentavam o dinheiro de 300 estabelecimentos comerciais. Pagavam a propina para policiais e políticos de Chicago. Os que blindavam Al Capone. O Mensalão da época. Ele foi condenado não por seus conhecidos crimes (sem provas contundentes). Mas, com provas de sonegar o Imposto de Renda, recém regulamentada instituição norte-americana.                                                            

Os segredos de Capone estavam com seus contadores. Em particular, Meyer Lanski, um jovem russo de origem judia. Lanski criou “a lavagem de dinheiro”. Era tanto cash entrando que ele “aplicava” comprando e financiando lavanderias, uma novidade do momento. Quando Al Capone morreu Lanski continuou “embranquecendo dinheiro” em cassinos.

Assim nasceu Las Vegas, Nevada, e os grandes hotéis de Havana. O famoso club 54, de Steve Rubel, que se passava por neto ou sobrinho de Lanski era mais um dos negócios do mafioso. Ele tinha dedo também na boate Copacabana, na rua 61, entre Quinta e Madison, local que eu arrendava para shows. O baixinho Lanski, gênio das finanças de Lucky Luciano, Al Capone, e de muitos mafiosas, morreu em 1983.

Um dos contadores negociou com a Justiça. Sem ele e seus cadernos Al Capone não teria ido para Alcatraz. A primeira prisão de segurança máxima dos Estados Unidos. O Procurador federal travou uma batalha heróica. Sob ameaças, conseguiu trocar o júri corrompido. O poderoso blindado gramou nove anos de cadeia. Rico, desfrutando do sol, mulheres, e do mar de Miami, Al Capone morreu aos 48 anos.

Redução de pena é madrinha da impunidade

                                                                     

Dinheiro, prestigio, conexões, bons companheiros, nada ajudou para a redução da pena de Capone. Não se alivia “the most wanted public enemy”. Ele saiu da cela por que estava morrendo sob o efeito de doses cavalares de mercúrio, tratamento para sifílis e gonorréia.

Corruptos e ainda por cima no coração do Governo, Congresso, no Judiciário, devem ser considerados Inimigos Públicos.

Sem penas alternativas, o que no Brasil, significa “moleza”. Cumprir pena como na China. Em Cuba. Como nos Estados Unidos. E ainda devolver o que surrupiou dos cofres públicos.

Na Arábia Saudita, no Irã, teriam uma mão cortada. Redução de pena, como aplicada no Brasil, é madrinha da impunidade. Mais uma indecência do nosso velho e velhaco Código Penal. As principais cidades do país estão sitiadas em “guerra civil” por criminosos beneficiados pela redução de pena à brasileira. Pela indústria dos atalhos e jeitinhos processuais.

Diminuição só depois de metade da pena

O grande salto de moralidade, um corte profundo na impunidade e na corrupção é considerar a diminuição da pena somente depois de metade dela cumprida. Não há prisões? Construam-se prisões. Elas são um horror? Há dinheiro, e muito, para melhorar todas as condições das prisões. A criminalidade não vai diminuir. A “mexicanização” tá chegando. Logo, logo, cabeças cortadas. Corpos pendurados em postes. Crianças empalhadas. Atear fogo em pessoas vivas o facínora brasileiro já faz. Atirar em “tiro ao alvo” humano, também.

Quadrilhas e lavadores de dinheiro estarão mais sofisticados. O crime organizado se fortalecerá. O país tem ilhas bonitas, recantos agradáveis, para prisões supermax. Para acomodar “blindados e intocáveis”. Nesse quesito Dilma não pode decepcionar o país. Tem que investir na melhoria do sistema carcerário. Com prisões modernas. Já. Pessoal bem treinado. Bem pago. Qual o problema em sermos o maior do mundo em população carcerária? Vergonha “ideológica”? Os Estados Unidos capitalista, a China comunista, não se envergonham de ocupar o primeiro e o segundo lugar em detentos. 

      

Dez anos de Lula. Faltou o quê? Coragem política para enfrentar ONGs, Igrejas, Piedosos, os Devotos da falsa caridade? Ou a  interpretação confusa, no chutometro, de dogmas ideológicos, mais a malandragem politico-eleitoral, não deixaram construir centenas de prisões? O governo LuDilma segue com a premissa da luta de classes (de araque): “nossos bandidos são coitadinhos. Uns aloprados. Roubaram uma merreca. Eles não sabem o que fazem. São vitimas do sistema. Das elites. Da exploração do homem pelo homem”. Daí a Bolsa Prisão e outros privilégios dos “direitos humanos” à brasileira. Daí os chiqueiros humanos.

“Blindados” não iam para a cadeia 

Indignação e protesto contra o STF vem do susto. Da surpresa. Da novidade. Intocáveis, porque pegaram em armas contra a ditadura? Blindados por pertencerem ao grupo de Lula? Intocáveis, por ser ministro, deputado, senador, endinheirado,  colarinho branco? Podemos ser bravos e decentes quando jovens. Canalhas e corruptos na vida adulta. Blindagem política é coisa de cafajeste brasileiro.

          

Quem diria que o Blindado, poderoso Mubarack do Egito, ficaria atrás das grades. E que o Blindado, o “Intocável” Gadafi, estuprador de menores, fugindo, seria morto a patadas e coronhadas. Fim indigno de uma vida indigna.

Blindados, amigos, irmão, camarada, do nosso blindado presidente, caíram. Estão caindo. Os povos não estão aceitando mais “intocáveis acima da lei”. Para alguns, como Mubarack, melhor ir para a prisão que morrer como Gadafi. No Brasil, não deve vigorar essa coisa de: “promotores, Juízes, advogados, devem servir ao Partido, aos governantes do Partido”  

Ver e enxergar a mensagem do filme. Intocáveis não eram os bandidos poderosos. Blindados por políticos e “homens da lei”. Intocáveis eram aqueles que jamais aceitariam propina. Não sujariam as mãos com corrupção. De nenhuma espécie. Corrupção não se combate somente nos tribunais. A TV brasileira -concessão pública- é atualmente a principal Educadora, a grande formadora de opinião, de costumes, tendências, comportamento. Não basta entreter. Noticiar. È preciso informar. E, sobretudo, opinar. Defender a sociedade atacada pela criminalidade. São emissoras de TV brasileiras.

A TV aberta prestaria um grande serviço à nação incluindo em sua programação filmes como Os Intocáveis. Filmes e seriados nos quais o Bem vence o Mal. Filmes que mostrem ao brasileiro anestesiado, vampirizado, vidiotizado, que o país não suporta mais Blindados no Executivo, Legislativo, Judiciário.

Blindados em filme e novela

               

Que bem a TV Globo, líder em audiência, fará à nação com uma novela dos “Blindados” brasileiros. Um programa especial ou seriado sobre o Mensalão. Pela web noticiam que produtora independente trabalha roteiro. Pela semelhança física, pela versatilidade, eu escolheria José Wilker para o papel de José Dirceu. Lima Duarte seria o Procurador Roberto Gurgel, o Homem da Lei.

“Os lugares mais quentes do inferno estão reservados para aqueles que em tempos de crise moral optam por ficar na neutralidade. Dante Alighieri.

 

  

 

 Conchinha

   

Negócio seguinte: tá deprê, ruim da cabeça e do coração, dificil dormir sozinha/o, depois daquele desentendimento? No problem. Chama e combina os termos e o tempo: “fique até eu pegar no sono e ai pode ir embora”. “Tenho insônia, me abrace forte”. “Passa a mão nos meus cabelos”, etc. No serviço conchinha não entra sexo. Aqui na Holanda/Suiça/Bélgica para transar gostoso é com as minhas Brazilian girls. Na verdade estou preferindo as venezuelanas, cubanas e uruguaias, mais profissionais, menos papo de saudade, menos traíras. Com a sexualidade escancarada aí no Brasil o serviço conchinha terapêutico, funcionará? È ver e sentir pra crer. ( Irene Poconé, Amsterdam/Brasília).

 Serguei em Cuia

                 

Tempos atrás li no jornal Página Unica que o roqueiro Serguei trabalhou no jornal  The Brasilians na Rua 46 em em Nova York e que ele criava um ambiente alegre alto astral. Infelizmente não alcançei chegar a Cuiabá para ver o show de Serguei na Esquina. Como ele está ligado a excepcional Janis Joplin peço que a trilha sonora do blog RH seja com uma música dela. Agora, se se se se Serguei comeu JJ isso não tem a mínima importância. (Fabiano Meirelles, Sinop).

Do Repórter na História: fotos e rascunhos

                                                       

      Catarina, a zeladora anjo, sempre uma sopa e chai extras. Doses industriais de antibiótico. A bicicleta do mujik.

 

Um ano fora da universidade. No check up a médica descobriu um caroço na “saboneteira”. Se tinha um poderia aparecer outros. A biópsia em hospital próximo a dacha moscovita de Stálin. Tuberculose linfática. Fui cobaia em clínica testando aparelhos russos de endoscopia. Depois de doses industriais de antibiótico com o cabelo caindo e a miopía chegando um sanatório às margens do Volga. Descobri e lí clássicos em espanhol. Nunca esqueci de Jean Christhofe, de Romain Rolland. Comprei a bicicleta velha de um mujik. Formei um time de futebol. Namorei a filha de um apparatchik local. Voltei bom e forte para continuar os estudos. Tivesse seguido com Geologia não estaria na píndaíba de hoje.

Os dias que passei conversando com tavarich em tratamento foram iluminados. Jamais saberia o que sei, não tivesse num hospital de turberculosos russos. Histórias. Aventuras. Como a de Rijik (centro da foto). Um sarará que fugiu de prisão na Sibéria vestido de padre ortodoxo. Bebíamos vodka sem rótulo, pa ruski, com caviar e pão preto. Ele conhecia umas jenchinas. Saíamos, às escondidas, para dar uns trepadas a cinco rublos, cada. Eu pagava. Rijik, 45 anos, não tinha um capeike. Pioneiro, consomol, militar exemplar, pisou na bola. Dançou. Uma vez culpado, sempre culpado. Na havia blindados no Planalto de Stálin. Só ele.

Divulgue. Encaminhe: as boas novas opinativas. www.oreporternahistoria.com.br

oreporternahistoria@gmail.com